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A Teoria na Prática

TESTE SEUS COHECIMENTOS DAS FORÇAS

Teste seu conhecimento das forças que ocorrem numa queda de líder de cordada. Tente responder sem olhar as respostas no link no fim das perguntas.

1. Qual a tensão numa corda de escalar que um participante com corda recolhida por cima causa na corda e no asseguramento quando ele cai?

2. É possível com uma corda em bom estado romper a corda somente com a força da queda?

3. O teste da UIAA com cordas é uma queda fator-2?

4. A força máxima numa corda, e por consequência as forças exercidas em todo o sistema de segurança, dependem da altura da queda? Por que?

5. A tão falada Segurança Dinâmica (SD) significa que o assegurador toma alguma ação ativa quando o líder da cordada cai?

6. Um assegurador incompetente consegue dar uma segurança estática para o seu líder escalando?

7. Se um escalador assegurado corretamente por seu parceiro, costura no primeiro grampo acima da parada, que está a 4m de distância (e altura) da base, sobe mais 4m e cai, qual aproximadamente seria o maior fator de queda?

8. Na mesma situação da pergunta [7], a tensão (força) que o assegurador terá que conter é maior do que a força máxima que o seu líder em queda vai sentir, igual ou menor?

9. A força que o último grampo terá que conter será o dobro da força que o escalador em queda vai sentir (Fmax), menos que o dobro ou mais que o dobro?

10. Forneça pelo menos uma razão que explique por que a UIAA não exige mais resistência mínima da corda e sim apenas a força máxima que a corda exercerá sobre o alpinista na queda de seu teste.

Respostas

1. Duas vezes seu peso. No artigo "A Fórmula Especial da Força Máxima de Impacto", disponível para download na seção "ARTIGOS", basta fazer fator de queda = zero e R=1, porque como a corda está sendo recolhida não há amortecimento da segurança dinâmica. O resultado é 2mg.

2. Não. A resistência a rompimento das cordas de escalar é cerca de 20-25kN, valores não mais publicados desde que a UIAA passou a exigir apenas Fmax. Como a Fmax das cordas modernas está abaixo de 9kN, isso é impossível.

3. Não existe queda fator-2 na vida real. Isso só é possível de forma artificial em laboratório. Um líder não pode progredir com a corda retesada, e é impossível uma segurança estática. Por essas e outras razões o teste da UIAA atualmente usa fator de queda de 1,77, considerado o máximo concebível numa escalada.

4. Não. Dependem da relação entre a quantidade de corda aberta (metragem do líder até o assegurador) e a altura da queda (e não a distância da queda). Cada metro de corda tem capacidade de absorver uma certa quantidade de energia da queda. Se o escalador sobe mais, ele acrescenta altura de queda, mas acrescenta também mais corda.

5. A concepção moderna e testada de segurança dinâmica está descrita no artigo citado na resposta [1]. O assegurador não deve fazer nada a não ser se colocar uma postura conservadora, que inclui colocar seu peso na solteira, costurar a saída do líder no mosquetão-base no qual está pendurado, e manter suas mãos na corda passando por um freio como o ATC ou o HMS (nó "UIAA") preso no seu bodriê (cadeirinha). Qualquer ação ativa sua porá em risco a segurança do líder.

6. Não. É impossível prover uma segurança estática, porque é impossível eliminar a folga da corda, o amortecimento da segurança, do bodriê, dos nós de encordamento, dos corpos de assegurador e líder, da frenagem extensa e progressiva do ATC (ou equivalente). O risco de um assegurador incompetente é ele deixar uma quantidade excessiva de corda correr antes de começar a frear. Isso pode causar danos físicos ao líder.

7. Oito metros de corda (sem as folgas) e oito metros de queda = Um.

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8. Obrigatoriamente menor. Dados do experimento experimento alemão indicam uma redução global da Força máxima sobre o assegurador devido à segurança dinâmica de pelo menos 40%.

9. Menos que o dobro, significativamente. A estimativa da Petzl e os cálculos dos artigos deste saite indicam uma força máxima sobre o grampo de no máximo 1,66 vezes Fmax.

10. A razão é que como as cordas têm uma resistência no intervalo 20-25kN, por razões de margem de segurança dos fabricantes, se são obrigadas a manter uma Fmax de 12kN, e se o mercado pressiona os fabricantes a manterem uma margem de segurança extremamente alta, a tendência que existe hoje é a distância entre a resistência e Fmax ficar cada vez maior.

DESCOBERTAS INTERESSANTES

Atrito seco - para pensar

É a soma de todo o atrito que a corda faz entre o líder e o assegurador da cordada, com a rocha, as costuras e toda superfície com a qual entre em contato à medida que o líder se desloca para cima. O atrito seco pode atingir valores altos, e a partir de um certo valor, se houver muitas costuras no caminho, o fator de queda, que estava caindo enquanto ele subia e acrescentava costuras no caminho, volta a crescer. O atrito seco pode fazer o fator de queda chegar a 2 novamente. Na verdade, pode fazer o fator de queda ser maior do que jamais foi desde que o líder iniciou o esticão.

O fenômeno acontece porque no trecho de corda atritado, como a corda se torna mais rígida (fisicamente, maior módulo da corda, menos elasticidade), tudo se passa como se a corda do lado do asseguramento tivesse diminuído de comprimento. Uma corda mais rígida se alonga menos no momento da queda e assim transfere impacto maior para o lado da queda, mais livre naquele momento. No artigo sobre a Fórmula Especial da Força Máxima (Veja "ARTIGOS") há uma discussão sobre o atrito seco, e como ele afeta a força máxima.

Esse fenômeno indica que o escalador deve ponderar, dependendo da escalada, das formas da rocha, das curvas feitas, e até do tipo e estado da corda que está usando, se esticar muita corda vale a pena. Se ele precisa fazer força significativa para arrastar a corda atada no seu baudrier, pode estar na hora de procurar uma parada, porque significa que o fator de queda voltou a subir de valor.

Alguns escaladores entrevistados pelo saite acrescentaram um comen-tário inusitado, que vale informar, descolado do aspecto técnico da segurança. Uma característica da escalada em rocha, dizem esses, é a cooperação entre parceiros, o encontro que se dá na pedra, quase sozinhos com a única presença do(a) parceiro(a) momentaneamente. Com muita distância entre líder e escalador esse encontro se torna raro, e a escalada uma atividade solitária, perdendo-se a oportunidade de trocar emoções, ideias, técnicas e falar da vida.

O saite ratifica seu compromisso com a liberdade individual. A questão dos encontros e até da segurança pessoal deve ser inteiramente do escalador. Cada um(a) deve decidir seu estilo de escalada. Mas conhecer os riscos e aprender a gerenciá-los é a atitude saudável.

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